sexta-feira, 13 de agosto de 2010

COTIDIANO – Parte I

Algumas vezes fui questionada sobre como é meu relacionamento “gay”, como é nosso dia a dia, e, às vezes até me perguntaram como fazemos sexo, isso tudo me foi questionado muito descaradamente, como se eu tivesse dado algum tipo de liberdade.
É incrível, mas nesse mundo louco as pessoas acham que nós, as lésbicas, conseguimos transar apenas usando brinquedos e vibradores.
Os homens em geral acham que por sermos lésbicas, estamos abertas a transar com eles, acho que na cabeça deles (onde obviamente não tem nenhum neurônio, a não ser aquele que manda o pênis ficar duro), lésbica é sinônimo de “orgia”, “brincadeirinhas e curtições”.
Também imagino que por eles terem vários fetiches de transar com mais de uma mulher, ou de vê-las transando, que é o mais clichê e óbvio, eles não pensam em nenhum momento que por estarmos juntas, nós nos amamos e estamos tentando ser um casal que vive junto e divide as mesmas coisas que eles, com suas namoradas, ficantes, esposas ou amantes.
Em geral, não apenas os homens, mas as pessoas costumam pensar que é uma fase, que logo irá passar, e pior ainda, como é no nosso caso, que estamos juntas por curtição e a procura de homens para ficarmos.
Isso é ridículo e me enoja totalmente.
Às vezes eu e a Flávia estamos numa lanchonete ou em um barzinho, e daí vêm aqueles tarados com cara de porco chegando como se fossem os donos do pedaço, tentam com aquela conversa de depravado levar a gente para um motel, ou dar uns pegas em nós, eles não têm capacidade para entender que somos um casal e que não temos um relacionamento aberto, também pudera, como eu posso esperar que eles entendam sendo que não tem QI algum?
Não quero escrever nenhum clichê, mas consequentemente já estou fazendo isso, falar mal dos homens sendo lésbica é o maior clichê que eu conheço, mas quero esclarecer que não estou generalizando, salvo alguns homens que não se enquadram nas minhas avaliações.
Não quero encrenca nem me tornar nenhuma revolucionária, quero apenas ter minha vida privada com calma, viver com minha namorada e não me tornar uma aberração.
Moramos sozinhas, adoramos ler, eu adoro ler e escrever contos eróticos, poesias e romances, temos mil contas para pagar, temos nossas profissões, trabalhamos com carteira assinada, fazemos compras no supermercado, eu faço comida, lavo roupas, limpo o banheiro, a Flávia varre o chão, dá comida para o gato e para o cachorro, troca as roupas de cama, vamos a vídeo locadora, a sorveteria, a boates héteros e gays, usamos salto alto, absorventes internos, saias, calças jeans, tops, sutiãs, vestidos e temos um relacionamento de melhores amigas do segundo grau, somos tipo aquelas amigas que dormem uma na casa da outra, que saem para se divertir, assistem filmes, fazem bagunça, abusam na comida e principalmente das besteiras (sorvete, chocolate, refrigerante, salgadinho), mas o que nos diferencia é que nosso amor uma pela outra vai além de qualquer amor tabelado, limitado e antiquado.
Ela me ama e eu amo ela, pensamos e agimos como qualquer outro casal, temos vários problemas, somos diferentes por sermos lésbicas, mas será que somos pessoas ruins e merecemos que o preconceito nos atinja por termos, as duas, uma vagina?
O mais chato é quando o preconceito vem da família. A maioria que está lendo isso deve saber bem do que estou falando. As nossas famílias sabem de nós, mas aceitar é outra coisa. A Flávia é uma mulher corajosa, falou abertamente e sem rodeios que somos namoradas. Já eu realmente sou uma vergonha, acho que nunca falei para alguém de verdade, apenas deixei muitas dúvidas sobre minha sexualidade, mas nunca constatei o óbvio.
Para a minha família muito menos, não por vergonha, também não por medo, nunca falei nada porque nunca fomos uma família de verdade, vivemos sem confiar uns nos outros, nunca tínhamos um diálogo civilizado por mais de dois minutos, enfim, para não dizer que nunca falei nada sobre eu e a Flávia, contei para uma irmã minha. Acho que até hoje ela não acredita. Coitada, ela é tão doce e sei que nunca entenderá isso.
É difícil ser mulher, ter menstruação, engravidar, ter TPM, cuidar para não ficar falada, ter vergonha do corpo, não saber que roupa usar, ser traída, abandonada...
Tudo fica muito mais difícil se você for mulher tendo esses problemas e ainda descobrir que você ama outra mulher. É assustador saber que você quer para sempre na sua cama uma bucetinha além da sua. Ou será que é tão assustador por que desde a infância sabemos que não tem lugar no mundo, quem dirá na sociedade para os gays?
Somos ridicularizados, ameaçados, perseguidos, tachados, surrados...
Não quero mudar as leis ou fazer com que todos me aceitem, apenas quero RESPEITO e PAZ. Mas, agradeço a Deus que a Argentina é logo aqui perto de Santa Catarina.
Não saímos por aí falando que somos um casal, aliás, a gente cuida muito com isso, porque aqui nessa cidade tosca de gente antiquada (sem generalizar), por qualquer fofoquinha você pode perder seu emprego e não terá mais chances de ser contratado. Mas, até que aqui as pessoas aceitam razoavelmente bem os gays... Isso porque acham engraçado ver os gays passivos se exibindo pelas ruas, sei que essa aceitação seria substituída se um casal gay adotasse uma criança ou fizesse uma inseminação, etc...

A continuação será postada amanhã gente! Não percam! hehehehe
Uma ótima sexta-feira pra todos!
Beijos

4 comentários:

Anônimo disse...

Entendo muito bem o que você disse,e concordo com cada palavrinha!
mais não acredito que você vai postar amanhã :O
eu todo fds fico louca esperando mais postagens,leio todos os dias,acho que sou viciada em vocês!
Beijokas;*

Giselle Ribeiro disse...

Mto a se refletir...neh?
Fico pensando de onde vem tanto preconceito...e as vezes me pego achando que ele nasce primeiro em nós mesmos,somos nós quem não nos aceitamos primeiro.
Pq se aceitássemos não nos resguardariamos de nada e encarariámos tdo com naturalidade.Somos nós qm fazemos a primeira deistinção entre ser homo ou hetero e nao maioria das vezes demoramos a aceitar o que verdadeiramente somos.
Claro,questão de cultura neh...
Mas me questino o que é preciso para isso mudar?
Precisamos mudar o foco do nosso olhar,fazer uma reflexão de dentro para fora... ....
*aguardo ac ontinuação,mas só poderei ler na segunda.
Supper beijo

Títi disse...

não é fácil néan?!
mas confesso que nunca sofri com preconceito...
claro que sempre tem que lidar com perguntas curiosas, mas até aí abrir um blog e expor as coisas do jeito que exponho já satisfaço um pouco tal desejo, até porque gosto de fazê-lo...
a verdade é que gosto de ser diferente e não vou ser hipócrita em dizer que não, me sinto mais sexy pelo fato de ser lésbica e ser um mistério...
me sinto mais desejada que uma hetero, mas o que as pessoas não sabem é que somos todas iguais, néan?!
não é uma opção ser lésbica, é uma condição...
não sou lésbica por ser promíscua, sou lésbica por amor!
Preconceito INFELIZMENTE não atinge somente a nós, mas a tantas outras "classes", são negros, indíos, judeus, velhos... e por aí vai!

Somos todos diferentes e QUE BOM que é assim, não queremos ser iguais à ninguém, mas que as diferenças sejam apenas aceitas... nem entendidas, mas ao menos aceitas!

putz... fiz um post e não um comentário néan?!
é que vc abordou um assunto muuuuuito bom! rs

bjos meninas

lesBia disse...

Sabe,ontem eu estava em um bar GAY e um cara que estava la (ja tava um pouco bebado) começou a xingar todo mundo e dizer que odiava gays etc...
Ele ate chego a acredi um gay e uma lesbica(amiga minha), oque me irritou muito e acabamos descutindo eu e ele e ela literalmente queria que eu ajoelhac e pedic perdão por ser lesbica.O que me irrito muito.E não deu outra acabamos em mais agressoes fisicas...
OQue eu não entendo é oque leva uma pessoa a ir em um lugar destinado ao publico gay e "dar esse tipo de "show", e oque leva aos outros,LGBTS que estavam la se omitirem tanto? nós não devemos ter medo,não estemos fazendo NADA de errado...So estamos amando.Obedecendo nossos corações...